Mas não pelo fato de não tê-las merecido,
Mas sim porque as joguei por aí, dei, arremessei ao rio, entreguei sob a luz do luar ...
Explico,
Adolescência, ótima fase da vida, na qual não nos preocupamos com o futuro e rimos com o passado, do alto de nosso ego, submergido na explosão de hormônios, que agem subtraindo de nós, por vezes, o raciocínio lógico e nos levando incessantemente as ações movidas pela emoção, sem razão aparente (e eu não estou falando de estar apaixonado).
Hoje, quem me vê, do alto dos meus 1m74cm, melhor, ao redor dos meus 130kgs, nem imagina quantos campeonatos participei, quantos jogos venci, quantas medalhas eu levei, quantos troféus eu mereci.
Sinceramente, nem eu consigo afirmar quantos, apenas arrisco, pois a memória às vezes me trai e lembranças físicas inexistem, como vos lhe informo a seguir ....
Destaca-se, as medalhas, nesse texto, por esses dias ter visitado um colega enfermo e sob a escrivaninha percebi seis medalhas, devidamente limpas e expostas à visão de todos e me lembrei que não mais as possuo, nem as exponho, não tenho nada papável daquelas premiações, somente os velhos termos do time, que insistentemente os guardo, embora alguns já estejam irreconhecíveis.
Lembro-me de ter levado um vice campeonato, mas na época eu diria que perdi um campeonato, percebes a diferença ? Então daquela ira por perder o campeonato, ao sair da AABB, atravessando a ponte, com os passos mais fortes do que marcação militar, preferi arremessar ao Rio Mossoró àquela medalha do que guardá-la, afinal, só terei boas lembranças, pensava este ingênuo subscritor e, estranhamente, aquele arremesso exauriu momentaneamente a ira... Tal gesto ganhou proporções, restando repetido pela grande maioria do time, não que eu fosse uma espécie de líder, muito pelo contrário, eu estava mais para mau exemplo, mas pela ira e decepção coletiva.
E o referido arremesso ao Rio, virou uma espécie de tradição no time, sempre que ficamos em segundo lugar, as medalhas iam ao Rio mais próximo, seja Mossoró, Potengi, Piranhas ou São Francisco... Percebes coisa mais piegas e infantil do que isso ?
Mas engraçado lembrar que nestes gestos de arremesso, éramos apoiados pela ala feminina (sempre elas) e elogiados pelos demais homens. Críticas só recebíamos dos professores, nem sei se por cumprirem ordens da coordenação desportiva ou se por senso do ridículo.
Teve também uma Copa, realizada em Recife, na qual acabei sendo expulso no último quarto do jogo das semi - finais, a qual perdemos e sequer pude disputar o terceiro lugar, o qual o time conquistou. Terceiro Lugar ? Não guardava as medalhas de segundo, porque iria guarda a de terceiro? A Praia de Boa Viagem deve estar cuidando melhor daquela medalha do que eu.
Mas... Também houveram bons momentos, dignos de uma orquestra ao fundo, tocando a música da Lagoa Azul (falando da minha adolescência), onde os holofotes se voltavam para mim, na minha imaginação é claro. Mas estes atos deram-se da imaginação de Dan (lembra-se dele?), do Doze e que me colocaram para iniciá-la, afinal, eu já era o mau exemplo mesmo, se desse errado, ninguém iria estranhar, se desse certo, iria limpar um pouco minha barra.
Dava-se da seguinte forma, ao recebermos à medalha, cautelosamente furtaríamos o microfone daquele que a fosse entregar e convidávamos a namorada / paquera / ficante / pretendendo / algo-assim para que a entregássemos a medalha na frente de tudo e de todos... E não é que deu certo? Melhor, deu mais do que certo.
Precisa dizer que as mulheres ficavam loucas? Seja pelo orgulho do fulano ali, do alto do primeiro lugar do pódio, assumir dessa forma o amor (amor?) à ela na frente de todos, logo entregando-a uma medalha de ouro (sim, só fazíamos isso com as medalhas de ouro)... Sem contarmos as resenhas nos dias que se seguiam! Pois é... E assim meus méritos acabaram sendo ofertadas à terceiras pessoas, teve uma pra Dani*, uma pra Marília*, uma pra Cibele*, uma para... Parei (!!).
Nunca as recebi de volta, também, pedir ia quebrar o clima de romance... Se bem que mesmo ao fim do relacionamento, não solicitava devolução, apenas a Dani*, que ao terminar comigo, não me lembro bem o porque, arremessou a medalha em mim, mas pela força do arremesso, apostaria que o intuito não era simplesmente me devolver.
Teve também a do Lual, que fazíamos todo fim de torneio, na praia de Cristóvão, na qual o time inteiro, pela primeira vez, e única, estava formado apenas de homens comprometidos, então foi um ato conjunto e orquestrado por todos, onde entregávamos as medalhas às mulheres... Ah, neste dia não teve orquestra, mas teve um bom pop rock... Praia, Lua, Fogueira, Vinho, que mais se fazia necessário ? O amor estava no ar, do lado, em cima e dentro das redes.
“É só uma medalha” afirmava em meus pensamentos, sem quaisquer cunho emocional ou pré-ocupação futura...
E assim foram as minhas medalhas, conquistando para logo depois sumirem das minhas mãos e vistas, algumas com certeza devem compor o assoalho de alguns rios, outras nem posso imaginar aonde foram parar. Se bem que algo em mim torce para que elas estejam enfeitando a parede de alguém, mesmo que esse alguém não tenha realizado esforços para conquistá-las.
Conclusão ?
No próximo torneio, vou guardar as medalhas, independente de posição, pois da forma como não consigo lembrar à quem as entreguei, aposto que também já fui esquecido, mas as medalhas são memórias, digamos, palpáveis.
Sem contar que, hoje percebo o real valor das medalhas e das memórias, reconhecendo que aqueles metais não representam só uma medalha, mas sim o esforço em sua conquista, dignos de uma boa risada e lembranças !
Sem contar, que o ego o impulso aborrescente havia me dominado, mas o venci esses dias... Ou apenas momentaneamente!
*Todos os nomes são resultados do acaso... Ou descaso.