segunda-feira, 19 de maio de 2008

De Pegador à Homossexual

Calma, não vamos gerar balburdias, não pensem demais ...

Comecemos, dando uma alcunha ao meu amigo, vamos chamá-lo de Dan, assim como podia ser Felipe, Edgar, Marcos, Denis ou quaisquer outro.

Aos fatos então:

Durante muito tempo pratiquei esportes, não só na rua, mas também no colégio e nos times de bairro, chegando a algumas vezes viajar para competir, e essas viagens, se você também joga, sabe o que eu to falando... Depois do término dos jogos, é pura euforia, são dias “fora de casa”, sem regras ou alguém para controlar, é um constante alcoolismo cultura e etílico, quase uma orgia de pensamentos e entusiastas e, as vezes, uma orgia, no sentido literal da palavra.

Mas bem,

Nessas idas e vindas, entre torneios e campeonatos, acaba se formando um circulo de amizades, principalmente entre os sempre presentes, como era o meu caso, dentre outros e, como sempre, as manias ou jeitos iam dando nomes e apelidos aos seus possuidores...

E todos, claro, odiavam seus apelidos, eram feitos para chatear mesmo, com exceção do Dan, ele tinha o apelido que todos queriam fazer jus, o apelido de Pegador. E era merecido. Veja só, se você antes de entrar em quadra observa-se uma garota, podia esperar que no fim do jogo Dan estaria com ela nos braços aos beijos.

Era algo... Inenarrável, diriam umas, e essas umas, eram apaixonadas por ele.

Com isso, com esse apelido e essa perspicácia Dan ia causando inveja entre todos e suspiros entre todas...

Literalmente, Dan não era o cara para se convidar para se fazer acompanhar a uma festa, pois o máximo de uma garota que o seu companheiro iria chegar era pra informar o telefone do Dan pra ela....

Mas Dan não era do tipo que se vangloriava de nada, ao contrário, vivia dando conselhos aos demais, incentivando-os a atirar-se sobre as mulheres que desejassem. Pergunto-me até hoje se ele ensinou certo ou errado, mas já superei.

E assim foi durante muito tempo... Do time 95 até 2001, alguns troféus, muitas medalhas, poucas fotos, mas nessas fotos Dan sempre está acompanhado de alguma mulher, ou de algumas, depende dos ciúmes entre elas ...

Se nunca mais tivéssemos ouvido falar de Dan, ele seria outro presente no imaginário dos que jogaram ao lado dele, bem como daqueles dos times inferiores, mas que sabiam e viam suas conquistas ...

Aí que vem a reviravolta.

Desde 2001, ano em que a turma do basket se separou, anualmente promovemos a velha reunião... ( cof cof cof saudosismo batendo poeira).

Via de regra, nos fins de ano, mas não em Tibau como tantos outros, locamos um cantinho e ficamos todos a beber, cair e levantar, com raros intervalos para diálogos, contar aonde estávamos, como íamos, se tínhamos casados, separados ou continuamos na vida de sempre, aquele bate papo que embora só ocorra anualmente, não muda, e nos faz perceber a idade...

Mas uma coisa nunca mudava... Lá estava Dan, com não só uma garota nos braços, mas cercado delas ... O eterno pegador diziam uns.

Bom, nessas reuniões sempre tem aquela pessoa, fdp ou não, que começa as perguntas de gaveta e os tiros no escuro, todos os anos... E em 2003 taxaram Dan de ..como é mesmo que se diz... metrossexual, isso, metrossexual ... Que para a grande maioria é sinônimo de viado, e para mim também .

Aí no epicentro cômico disso tudo, estava Dan, que ao se levantar rapidamente, causa um certo ar de suspense entre todos, já que as memórias dos gritos dele com o time eram freqüentes mas, ao começar a falar o tom de voz de Dan muda.... E todos na sala mudam, seus atos, seus rostos e fisionomias mudam.... Quando Dan termina de falar, percebe-se um desejo de rir de uns, a tristeza de outras, o eu-não-acredito de muitos e o espero-que-seja-mentira de todos em sua volta... Alguns minutos se passam, horas... Até que alguém peça que ele repita a sua fala.

E, novamente, ele expõe à todos, os quais tinha como amigo de confiança, do peito e irmão camarada, ele vocifera à todos afirmando ser homossexual e que espera que a amizade continuasse ...

Um choque à todos, mas Dan continuava ali, de pé, a espera da resposta de todos naquela sala, ele só não sabia que ninguém esperava por isso, não havia um caso de homossexual naquele time, turma ou o que sobrou dela, sequer tínhamos algum homossexual que o tratássemos como um mero colega, imagine amigo.

Todos éramos, melhor, somos, frutos da moralização do sexo e suas opções, como dizia um velho Tio, na nossa família já houveram seis assassinatos, mas todos somos honrados, não há entre nós prostitutas ou gays. Aí o Dan quer que o admitamos assim, um gay, e na turma ?

Mas Dan continuava de pé, a espera da resposta da turma... Foram minutos de longa espera, até que um dentre nós se levantou e o abraçou, sendo seguido por todos os homens presentes na sala. (as meninas, parte estavam no celular espalhando a notícia, umas chorando no canto da sala e as outras que o Dan havia beijado estavam com ânsia de vômito no banheiro).

Ficou um clima estranhamente... homossexual! Dezesseis homens, digo, quinze homens abraçando um homossexual em uma sala rodeada de mulheres., vai entender essas peças que a vida nos prega. E ainda bem que naquela época câmera digital não era comum, senão ia ser outra foto para manchar a história.

Passado o susto e com a teórica aceitação, ainda rimos muito naquela noite, lembrando das histórias dos times, que sempre eram contadas, mas nunca perdiam a graça, lembrávamos de Dan dando uns pegas nas deusas dos jogos, sempre na expectativa que ele dissesse que tudo era uma brincadeira, mas ele só fazia dizer “os tempos eram outros” e que ele era um homossexual.

Que fique claro, homossexual e não um gay. Dan ainda hoje não transpassa a idéia de um gay, ele se comporta e age como um “homem normal” e ai de quem o chamá-lo de bicha... As meninas dizem que ele é um urso, numa analogia a um grupo homossexual do Sul e Sudeste. Eu não tenho opinião sobre isso, e nem pretendo ter,

Mas... Todos “aceitamos” a opção do Dan, desde dessa situação as piadas entre homossexuais estão proibidas nas reuniões anuais, passamos e buscarmos não rejeitá-lo, em “memória” ao velho Dan da época do time, estamos dando uma revisada nas histórias, buscando não comentar sobre as garotas que ele conquistou e deixou para trás.

Mas quando o Dan se vai, as perguntas sempre se voltam as questões comuns do grupo... “Pô, o Dan tomava banho no mesmo vestiário que eu, dormia as vezes no mesmo tatame, será que ele já era? Ou não? Pouutz... São tantas indagações que emergem do receio do Dan ter visto um de nós de forma diferente que as vezes há afirmações, no mínimo, estranhas.. Doze uma vez se indagou: Será que Dan já me olhou diferente? Ao percebemos a forma da exposição, já estava receoso, até que o Blindado falo: Nada, se ele fosse olhar diferente para alguém, seria para mim.” Eu estava estupefato, com o teor homossexual da história que a eterna disputa de egos colocou aqueles dois ....

O comportamento de Dan?

Nas reuniões, é normal, nunca se viu ele dando em cima de ninguém do time,

Mas em todas as reuniões, sempre se cria uma expectativa de que ele adentre a sala de braços dados com uma (ou umas) garotas e não com alguém que fala mais grosso do que eu....

O laço de amizade no time é tamanho, que todos esperam que Dan “retorne” a ser um homem homem mesmo, de verdade verdadeira, e não um homossexual... Mas vocês já ouviram falar de ex-viado? É... Eu também não. Mas a memória de Dan faz com que nós, do time, tratemos todos com respeito e é isso que fazemos, não movidos pela Constituição ou receio da prisão e sim o respeito a imagem do amigo.

Minha visão sobre isso ?

O Dan tem uma bagagem histórica conosco, de forma que (ele que não leia) se tornou admissível em nosso grupo.

Oura, verdade,

Não vou mentir, afinal, sou um moralista, fui criado assim.

Lição disso tudo ?

Nenhuma.

Mas uma coisa é certa, quando a gente pensa que conhece alguém ...

É ...

Quando nasci, homossexualismo era proibido,

Hoje, ele é admitido,

Quero ir embora antes que ele vire obrigatório.

E ainda tem um mais sacana que sempre diz: Não denigro a imagem de Dan, afinal, já pensou se isso é bom e nós estamos é perdendo tempo ?



Vai entender...

4 comentários:

  1. AMEI!!
    Escreva um livro narrando a vida do Dan desde os primórdio, analisando minunciosamente seus atos.
    Será best seller.

    Sem se falar o teor totalmente cômico do texto! hauhauahuahau

    A Saraiva ta te perdendo Don, é fato.

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  2. Precisa. Claro que precisa. Sempre precisa.

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  3. A narrativa é ótima, mas alguns comentários são preconceituosos....
    uma pena...

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Vai, arroche! Só não fale mal de mãe.